Cadeia de valor e do conhecimento nos pequenos negócios

Por Narjara Xavier
O termo “cadeia de valor” foi cunhado por Michael Porter, em 1985, em seu livro “Vantagem Competitiva”. Para o professor da Harvard Business School, cadeia de valor é todo o conjunto de atividades desempenhadas por uma organização e que passa pelo relacionamento com diferentes atores (por exemplo, fornecedores, terceirizados, trabalhadores, investidores, P&D, clientes, consumidores, sócios) para entrega de valor na forma de produtos ou serviços. 

A evolução nas relações da cadeia de valor nos revela que as empresas iniciaram o movimento da terceirização de atividades que não possuíam impacto direto no produto final (conhecidas como atividades-meio, não essenciais ou de apoio) e, mais tarde, de atividades diretamente relacionadas ao processo produtivo do negócio. Dessa forma, o que vemos atualmente é uma nova configuração dos modelos de negócios: a cadeia de valor terceirizada.

Aumentando a eficiência com a cadeia de valor

Na prática, o que se verifica é uma cadeia de valor formada por uma empresa central de execução a responsável por toda a rede (contratante) e as empresas terceirizadas (contratadas). Esses terceiros contratados são responsáveis pelas atividades que possuem impacto direto no produto final ou serviço entregue da contratante, em decorrência das suas técnicas de produção e de tecnologia, permitindo à empresa central entregar cada vez mais valor para os clientes por meio da especialização da terceirizada. 

Estudos revelam que o mercado de Business Process Outsourcing – BPO (Terceirização de Processos de Negócios, em português) vem crescendo em todo o mundo e ganhando cada vez mais força no Brasil nos últimos anos. Uma pesquisa da Technavio, publicada em 2021, aponta que o mercado global de BPO pode crescer em US$ 40,16 bilhões até 2025. 

No setor industrial, por exemplo, redução de custos de produção, ganho de tempo, aumento da qualidade do serviço e uso de novas tecnologias são os principais fatores que impulsionam o crescimento desse mercado, segundo publicação da Confederação Nacional da Indústria – CNI (2017). Além desses benefícios, esse novo modelo contribui para a inovação aberta em colaboração com parceiros-chave da cadeia de valor do negócio. Isso permite tanto a expansão da capacidade organizacional e a melhoria de processos, produtos e serviços, como também a conexão e geração de oportunidades em todo o ecossistema empreendedor.

Falando especificamente dos pequenos negócios brasileiros, segundo pesquisa do Sebrae (2023), 21% desse perfil de empresas que fecharam em 2020 tiveram como um dos principais determinantes para o encerramento das atividades a gestão deficiente da empresa. Considerando essa taxa de mortalidade, a cadeia de valor terceirizada tem sido uma estratégia recomendada para ajudar esses empreendimentos a se consolidarem financeiramente.

Conhecimento e aprendizagem na cadeia de valor

Porém, se por um lado o BPO é entendido como uma das estratégias de gestão para superar esse desafio de sobrevivência, permitindo à empresa central transferir a execução de uma ou várias atividades para terceiros, aproveitando assim a sua base de conhecimentos especializada, por outro, fica claro que esse modelo de negócios pode trazer riscos relacionados ao conhecimento para a empresa central da cadeia de valor.

Por meio das experiências em projetos com clientes, a Impakt Consultoria destaca alguns riscos:

  • Repetição de erros e perda da produtividade
  • Atividades de capacitação reativas / fragmentadas / sem estratégia
  • Dificuldades de acesso a conhecimentos disponíveis
  • Dificuldades em aplicar o conhecimento desenvolvido na empresa e/ou com parceiros 
  • Dependência de conhecimentos-chave de fornecedores
  • Perda de conhecimento relevante com a saída de pessoas e/ou com a troca de fornecedores

Para mitigar os riscos de conhecimento atrelados à cadeia de valor terceirizada, a empresa central precisa (i) trabalhar a gestão em níveis mais estratégicos, expandindo a capacidade técnica e gerencial da empresa central; e (ii) adotar não apenas a abordagem da cadeia de valor terceirizada, mas também da Cadeia de Valor e do Conhecimento. Isso significa que a empresa central pode aprimorar a sua eficiência e produtividade com a Gestão do Conhecimento integrada à sua cadeia terceirizada, seja para garantir a qualidade dos seus processos e produtos, promover um ecossistema de conhecimento ou implementar inovações em rede. 

Para além da mitigação dos riscos de conhecimento na cadeia de valor terceirizada, um dos grandes motivadores para contar com aliados na cadeia é justamente o conhecimento especializado de cada um dos atores. As empresas se organizam em cadeias conforme seus conhecimentos e competências especializados, de forma que, em conjunto, consigam gerar valor para os clientes. O conhecimento é, portanto, um dos catalisadores da organização da cadeia terceirizada.

 

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